segunda-feira, 18 de agosto de 2008

'Usina Mauá não é brincadeira', diz chefe do consórcio

Quatro anos de bombardeio verbal, pesquisas e protestos contra os impactos da Usina Mauá, no Rio Tibagi, parecem ter servido para afinar o discurso de quem tem interesse em construí-la. Se há algum tempo dirigentes da Copel eram evasivos ao falar no assunto, hoje - com uma decisão favorável do Superior Tribunal de Justiça (STJ) - as respostas estão na ponta da língua. E questionamentos não faltam.
A hidrelétrica que vai inundar uma área de quase 100 quilômetros entre Telêmaco Borba e Ortigueira é contestada por 15 ações judiciais. Nada que pareça incomodar o superintendente-geral do Consórcio Cruzeiro do Sul, Sérgio Luiz Lamy, que falou à FOLHA.

Ações judiciais apontam que houve fraudes e omissões no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e licenciamento da UHE Mauá. O próprio presidente do IAP, Victor Hugo Burko, disse que o estudo era um ''lixo''. Como passar por cima de tudo isso?
Não temos que emitir opinião sobre um tema que não nos cabe. O EIA-Rima foi feito por outra empresa, a CNEC. A Copel e a Eletrosul só se envolveram com o empreendimento depois, quando ganharam o leilão.

Mas, como responsáveis pela obra agora, vocês precisam ter certeza de que os dados correspondem à realidade, certo?
Nós acreditamos nas instituições deste País e acreditamos na equipe técnica e competente do IAP, que entendeu que poderia emitir a licença prévia. Se o Judiciário tiver algum impedimento conclusivo em relação a essas questões, vamos respeitar.

Falta empenho na busca de fontes de energia alternativas e menos impactantes, como a eólica, a solar e as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs)?
A Copel e a Eletrosul têm feito muitos estudos de fontes alternativas de energia. Só que no estágio atual de tecnologia, essas fontes não estão disponíveis na quantidade e ao custo que o Brasil precisa. A tendência é que ocupem espaço na matriz energética, mas de forma complementar às energias convencionais.

Não existe um certo comodismo em privilegiar as fontes convencionais?
Se fizer uma pesquisa nos países mais avançados do mundo, verá que nenhum está atendendo sua demanda através de fontes alternativas. Pior: estão queimando combustíveis fósseis, muito mais impactantes, porque não têm a mesma felicidade que o Brasil de ter disponível essa energia limpa que a natureza nos cedeu, que é a hidrelétrica.

''Limpa''?
É claro que a hidrelétrica provoca impacto ambiental, como até as alternativas provocam. Você já viu o ruído de um canteiro de energia eólica? Mas dentre as fontes convencionais a hidrelétrica é uma das menos impactantes. É considerada energia limpa e renovável.

Os rios paranaenses já não foram sacrificados demais, considerando que o Estado é superavitário na produção de energia?
Se comparado com o resto do Brasil, o Paraná produz mais do que necessita. Mas estamos vivendo numa federação e cada Estado tem que dar sua contribuição com os recursos de que dispõe. Não temos petróleo suficiente no Paraná e recebemos de outros estados.

Você não tem medo de comprometer o futuro de espécies e milhões de pessoas que dependem do Rio Tibagi?
Não tenho nenhuma preocupação com isso. As pessoas que vivem à beira do rio serão reassentadas, terão sua qualidade de vida melhorada. Estou extremamente tranquilo, pois é uma oportunidade de desenvolvimento da região. Quanto às espécies, todos os estudos foram feitos de forma responsável. Ninguém pode afirmar que qualquer espécie vai desaparecer.

Pesquisadores apontam que a água que abastece cidades como Londrina ficará imprópria para consumo...
São informações incorretas. Temos estudos que comprovam que a qualidade da água vai até melhorar. Vamos implementar um sistema adicional de monitoramento que poderá alertar o IAP sobre problemas de contaminação. Não estamos fazendo brincadeira. É evidente que qualquer atividade humana provoca impacto ambiental. Cabe a nós tomar medidas compensatórias e mitigadoras, e isso estamos fazendo. O pior impacto é a pobreza. Se o país precisa crescer para que haja o resgate social das pessoas que estão vivendo em favelas, então precisa ter infra-estrutrura e energia elétrica.

E não são os moradores de favelas que precisam fazer ''gato'' para ter energia elétrica?
Não se tiverem oportunidade de emprego, de um salário justo e decente, com o país se desenvolvendo
FONTE: BONDE NEWS

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