quinta-feira, 19 de março de 2009

Crise derruba verba para tecnologia limpa

O que era muito pouco ficará menor ainda. As empresas brasileiras, que em sua maioria investem menos de 1% do faturamento em tecnologias sustentáveis, vão diminuir o valor destinado a ações de redução do impacto socioambiental de suas atividades. Dois terços das companhias admitem que, por causa da crise econômica, estão cortando ou adiando investimentos previstos para essa área em 2009 e 2010. A constatação é de um estudo inédito da consultoria Roland Berger, que ouviu 110 empresas de vários setores em todas as regiões do país.

De acordo com a pesquisa, 27% das companhias vão reduzir os investimentos – a maioria cortará de 25% a 50% dos recursos previstos antes da crise – e 39% pretendem adiá-los. Outras 27% declararam que a desaceleração da economia não mudou seus planos, e 7% afirmam que vão aplicar mais dinheiro do que estava planejado.

Mesmo assim, o resultado foi considerado satisfatório por Thomas Kunze, sócio da Roland Berger. “Em meio a uma crise dessa proporção é um patamar muito bom.” O estudo foi apresentado ontem, em São Paulo, pouco antes da abertura da Ecogerma 2009, feira de tecnologias sustentáveis promovida pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha.

A pesquisa apontou que 54% das companhias brasileiras investem até 1% de suas receitas anuais em tecnologias desse tipo; 27% aplicam de 1% a 3%, outras 5% investem entre 3% e 5% e as 14% restantes afirmam destinar mais de 5% do faturamento à sustentabilidade. Na média mundial, as companhias aplicam 2% das receitas a essa área.

Em 2007, o mercado brasileiro de tecnologias sustentáveis movimentou US$ 16,9 bilhões, aplicados em energias renováveis, tratamento de água e resíduos e projetos de eficiência energética. Apesar dos efeitos negativos provocados pela crise econômica em um primeiro momento, a previsão da consultoria é que esse mercado crescerá a uma média de 5% a 7% ao ano até 2020, quando deverá atingir algo entre US$ 22,6 bilhões e US$ 25,4 bilhões. A expansão média projetada para todo o mundo é de 6,5% ao ano até 2020, quando deverão ser investidos cerca de US$ 4 trilhões no setor, que movimentou US$ 1,8 trilhão em 2007.

Atraso

Embora seja considerado um dos líderes globais na área de energias renováveis, em razão do uso intenso de hidrelétricas e biocombustíveis, o Brasil representa pouco menos de 1% do mercado “sustentável” global. A Alemanha, por exemplo, investiu US$ 40 bilhões apenas em energias renováveis em 2007, seis vezes o valor aplicado pelo Brasil no mesmo ano.

Os problemas mais sérios do país estão na área de resíduos urbanos – 95% deles vão para aterros, frente a apenas 18% na Alemanha – e industriais. Apenas 33% do lixo gerado pela indústria brasileira é reutilizado, reciclado, co-processado ou armazenado adequadamente, índice que chega a 43% no país europeu.

Para as companhias entrevistadas, as principais barreiras ao desenvolvimento do mercado sustentável no Brasil são custos incompatíveis (32,5%), falta de informação (22%), falta de financiamento (17,5%), leis desfavoráveis (15%) e pouca pressão da sociedade e da mídia (13%).

“A consulta às empresas mostra que os dois principais desafios estão na regulação ambiental e na oferta de novas tecnologias no país, que é insuficiente na maioria dos segmentos”, disse Kunze. Se, por um lado, o Brasil é líder no uso de energia e eletricidade renovável, os alemães dominam 25% do mercado mundial de tecnologias de reciclagem e 5% da área de eficiência de matérias-primas.

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