segunda-feira, 20 de abril de 2009

A expansão sustentável do bairro verde

Nos últimos anos, a sustentabilidade saltou das páginas do dicionário para entrar de vez no vocabulário de construtoras e incorporadoras. Agora, o conceito de "prédios verdes" - como são conhecidos os edifícios sustentáveis - expandiu-se para "bairros verdes". O que pode parecer algo futurista, na verdade, já está em implantação desde o ano 2000 na cidade de Palhoça, em Santa Catarina. Dilnei Bittencourt, diretor de engenharia da Pedra Branca Urbanismo Sustentável, conta que o bairro nada mais é do que uma antiga fazenda. "A região metropolitana expandiu-se tanto que atingiu a fazenda e ela acabou perdendo sua função pecuarista", relata. Ao mesmo tempo, a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) queria montar o seu campus na região e precisava de uma área de 10 mil hectares, para atender cerca de dez mil alunos. "Doamos o terreno para a faculdade e depois vendemos mais de dois mil lotes para construção de moradias. Foi um sucesso". Outro resultado positivo foram as vias de acesso, que eram muito difíceis de serem utilizadas e acabaram por ficar mais fáceis.

Esse foi o pontapé para mais de 10 anos de estudo de zoneamento, tecnologia e urbanismo que resultaram no bairro Pedra Branca, um mix de unidades residenciais, comerciais e industriais. Hoje ele abriga quatro mil moradores e mais de 30 indústrias não poluentes. Além disso, a Pedra Branca gera mais de 3,5 mil empregos e a previsão é de que daqui a 15 anos o bairro tenha 35 mil moradores e gere 15 mil novos empregos. "O bairro abriga tudo. Por isso, as pessoas não precisam se deslocar de casa para o trabalho durante horas, como acontece em São Paulo. Lá tudo é integrado e a ideia é usar da melhor forma possível os equipamentos e assim gerar menos poluição", afirma Bittencourt.

O diretor de engenharia da Pedra Branca acentua ainda a importância da densidade populacional. "Se a gente colocasse todo mundo separado, os serviços públicos ficariam inviáveis. Mas é necessário haver um equilíbrio entre área construída e ambiente natural. Chegamos à conclusão que o ideal é ter 700 habitantes por hectare". Até o fim do ano, serão lançados dois empreendimentos, com quatro torres cada. Eles vão abrigar unidades comerciais e residenciais. "Cada empreendimento vai tomar uma quadra do bairro e vamos construir um pátio central tão atraente quanto a fachada", adianta Bittencourt. Ele acrescenta que a velocidade financeira e de absorção que vai determinar quantos empreendimentos vão ser erguidos nos próximos anos. "Como os prédios são todos sustentáveis - com redução de energia, reutilização de água da chuva -, o preço do condomínio é menor, o que deve atrair ainda mais pessoas", acredita.

No segundo semestre deste ano, também serão iniciadas as obras do projeto de novo urbanismo, que prevê a formação de 20 quadras de múltiplo uso. Nelas serão construídas centro cultural e de eventos, hotel, biblioteca, prédios residenciais e comerciais.O projeto já conquistou reconhecimento no Brasil e no exterior. Em 2007, recebeu o prêmio na categoria Investidores na XI Bienal Internacional de Buenos Aires (Argentina), e no ano seguinte foi um dos 20 finalistas do "Financial Times Sustainable Awards Cities 2008". Além disso, o edifício Pedra Branca I, que é sede de um grande call center, recebeu, em 2008, o Prêmio Destaque na categoria Green Building do V Grande Prêmio de Arquitetura Corporativa, promovido pela Office Solution, com apoio da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (Asbea). O empreendimento corporativo foi desenvolvido por meio da utilização de diretrizes do sistema LEED.

Nelson Kawakami, diretor executivo do Green Building Council Brasil, ONG que promove o LEED no país, conta que vai ser lançado ainda neste semestre, o LEED para bairros, o Neighborhood Development. Ainda em fase piloto, o conceito dessa certificação e suas recomendações já são contemplados no bairro Cidade Pedra Branca e no Setor Noroeste, em Brasília. "O importante desses bairros é eles oferecerem toda infraestrutura necessária para que os moradores não precisem se deslocar para suprir suas necessidades de moradia, comércio, estudo e trabalho", explica. Além disso, devem ser aplicadas as recomendações de uso racional de água, eficiência energética, utilização adequada de materiais, qualidade interna e externa dos edifícios e pavimentação que permita a absorção de água. "Isso é feito deixando um miolo para ser preenchido com terra e grama", esclarece.

Perguntado sobre a possibilidade de transformar os bairros já existentes em sustentáveis, Kawakami afirma que é possível, mas exige muito investimento. Além disso, teria que contar com uma mudança cultural das pessoas que geralmente moram em um bairro diferente de onde trabalham. "Com o tempo, esse conceito vai mudar a vida da sociedade."

fonte: gazeta

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