segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Um “laboratório” para energias renováveis

Seja pela capacitação técnica, força operacional e poder de geração, Itaipu Binacional carrega um reconhecimento internacional mais do que merecido. A usina, que no ano passado registrou a quarta maior produção de energia nos seus 25 anos de vida com a marca de 91.651.800 MWh, quer agora dar um salto além das 20 unidades geradoras que totalizam 14 mil MW de capacidade instalada. E o caminho, como não poderia deixar de ser para quem tem tamanho gigantismo em geração hidrelétrica, aponta na direção das fontes sustentáveis de energia. Aliás, bem alinhado à busca pela reversão do quadro de mudanças climáticas, missão daqui para frente de todos nós.
O trunfo de geradora para chegar lá responde pelo nome Plataforma Itaipu de Energias Renováveis, solução implantada em 2008 para estudar alternativas energéticas como eólica, biomassa, solar e hidrogênio. “A plataforma é a metodologia operacional utilizada por Itaipu para organizar a participação de parceiros como pesquisadores, produtores rurais, indústrias, comércios e serviços envolvidos com energias renováveis”, explica Cícero Bley, superintendente de Energias Renováveis de Itaipu. A Plataforma reúne os parceiros Parque Tecnológico de Itaipu (PTI), Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (ITAI), Copel, Sanepar, Cooperativa Agroindustrial Lar, Global Energy & Telecom (GET), Woodward e ADEOP.
Os primeiros resultados do trabalho já começam a aparecer, por exemplo, com o biogás obtido do tratamento sanitário dos resíduos e dejetos orgânicos. “Basicamente estamos aprofundando a nossa capacidade institucional em biogás. Isto sem perder de vista as demais fontes como microhidro, solar e eólica, além dos conceitos de eficiência energética”, destaca Bley nesta entrevista exclusiva à Agência Ambiente Energia. Em março, o PTI ganhará o primeiro laboratório de biogás do país.

Agência Ambiente Energia – O que levou Itaipu Binacional a criar, em 2008, a coordenadoria de energia renováveis?
Cícero Bley - As razões foram o compromisso com a responsabilidade socioambiental assumida como missão estratégica em 2004; por operar com geração hidráulica que é 100% renovável, a empresa acumula muito conhecimento específico em energia e decidiu compartilhá-lo com a sociedade para promover o desenvolvimento sustentável a partir da descentralização da geração de energia; para ter um protagonismo ativo na mitigação das mudanças climáticas, difundindo o uso das energias renováveis; e para manter a qualidade da água armazenada no reservatório.

Agência Ambiente Energia - Objetivamente, o que a empresa levou em consideração para criar a plataforma de energias renováveis?
Cícero Bley - A plataforma é a metodologia operacional utilizada por Itaipu para organizar a participação de parceiros como pesquisadores, produtores rurais, indústrias, comércios e servicos envolvidos com energias renováveis.

Agência Ambiente Energia – Como ela se alinha a esta preocupação atual de todos com o quadro de mudanças climáticas?
Cícero Bley - As renováveis constam dos relatório da ONU como mitigadoras de emissões de gases do efeito estufa provocados por uso de fontes fósseis de energia.

Agência Ambiente Energia – Com este pouco tempo de implantação da plataforma, já é possível falar de resultados?
Cícero Bley - Entendemos que não podemos mudar o mundo, mas podemos semear referências que podem facilitar mudanças necessárias nos modos de produção e consumo. Assim, implantamos unidades de demonstração e temos cinco delas operando oficialmente com geração a base de biogás dos resíduos rurais na região de Itaipu. Em dezembro passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) homologou esses protótipos e publicou uma instrução normativa regulamentando esse tipo de geração para todo o Brasil. Este processo durou quatro anos, envolvendo outroas instituições parceiras.

Agência Ambiente Energia – A plataforma é uma solução local para um problema global. Na prática, como está sendo implantar este conceito na região, articulando os diferentes atores – instituições de ensino e pesquisa, associações e cooperativas, empresas e governos?
Cícero Bley - É trabalhoso mas a metodologia plataforma facilita muito a articulação de diferentes atores que têm que se manter em contato e organizados para atingirem objetivos comuns, a partir de trabalhos específicos, mas exigem ser concatenados. A plataforma estimula e facilita também a prospecção permanente de inovações tecnológicas mantendo o desenvolvimento atualizado.

Agência Ambiente Energia – Em termos de estudos, o que a plataforma já identificou de potencial de energia nesta região?
Cícero Bley - A fonte renovável mais disponível e de melhor benefício/custo numa região produtora de alimentos como o Oeste do Paraná é o biogás obtido do tratamento sanitário dos resíduos e efluentes orgânicos gerados na produção de proteína vegetal, soja e milho que é convertida em carne e leite, o que gera grande quantidade de resíduos e dejetos orgânicos e se constituiem em grave fontes de impacto ambiental, tanto produzindo poluição das águas, que perdem qualidade pelo excesso de matéria orgânica, como produzindo poluição atmosférica pela emissão de gases do efeito estufa.

Agência Ambiente Energia – Que impactos o senhor espera com a regulação para a energia gerada por biodigestores?
Cícero Bley – A regulação feita pela Aneel para geração distribuída, ou descentralizada de energia elétrica com biogás e saneamento ambiental, coloca o Brasil no nível das nações mais desenvolvidas do mundo que já adotam esta forma de geração. Isto representa para o setor rural e para o setor de saneamento uma nova fonte de receita para cobrir os custos dos investimentos e operações dos serviços ambientais e aproxima esses setores da sustentabilidade. Além disso, como se trata de geração descentralizada, provocará intenso desenvolvimento microrregional, fazendo surgir uma nova indústria, estimulando o comércio e os serviços relacionados, além de intensificar o fluxo de novos conhecimentos acadêmicos.

Agência Ambiente Energia – Em termos de novas tecnologias para estas fontes alternativas, o que a Plataforma está estudando?
Cícero Bley - Basicamente estamos aprofundando a nossa capacidade institucional em biogás pelas razões já expostas. Isto sem perder de vista as demais fontes como microhidro, solar e eólica, além dos conceitos de eficiência energética.

Agência Ambiente Energia – Como o Parque Tecnológico de Itaipu se alinha a este projeto da plataforma?
Cícero Bley - O PTI é o espaço físico que hospeda várias instituições públicas e privadas que se relacionam no ambiente da plataforma e que ali encontram todas as facilidades para operar ações conjuntas em bases organizacionais e tecnológicas bem desenvolvidas.

Agência Ambiente Energia – O governo, nos últimos anos, vem estimulando a geração de fontes alternativas. Como o senhor avalia este mercado hoje aqui no Brasil?
Cícero Bley - O Brasil segue a tendência mundial e o governo federal vem tomando atitudes certas em direção ao controle das emissões de gases do efeito estufa em 38% e para isto estimula as energias renováveis, a mobilidade e as construções sustentáveis. A regulamentação da Aneel para geração distribuída pela Instrução Normativa 390/09 é o grande exemplo disso.

Agência Ambiente Energia – Esta experiência está, de certa forma, ecoando em outras regiões do país, por meio de cooperação técnica, comercial ou científica?
Cícero Bley - Itaipu tem grande visibilidade nacional e mundial e levando a sério, como tem levado a sério seus compromissos com o desenvolvimento tecnológico com responsabilidade socioambiental, a replicabilidade de suas boas práticas em outras regiões brasileiras e países da América e África fica assegurada.
Fonte: Ambiente Energia

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