Por Júlio Santos - Uma velha queixa de muitas pessoas da área de energia elétrica começa a ficar para trás. A publicação dos seguidos planos decenais a partir de 2006 mostra que o país retoma o costume de planejar o futuro da matriz energética. Apesar de trazer dados indicativos sobre a entrada de novas usinas, linhas de transmissão e subestações, além da capacidade de produção de petróleo, gás e outros insumos, o Plano Decenal de Energia emite bons sinais aos investidores e empresas da base energética necessária para garantir o crescimento dos negócios.
Em um seminário realizado na semana passada pela Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine) e a Método Eventos de Energia, o PDE 2010/2019 passou por uma autêntica consulta pública, uma semana do fim do seu prazo de consulta pública, que termina na próxima quinta-feira, dia 2 de junho. No seminário, planejadores, investidores, dirigentes setoriais e financiadores avaliaram as diretrizes do documento preparado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia responsável pelo planejamento energético.
“Com este plano, o governo sinaliza sua opção pelas energias renováveis”, destacou Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE, cuja diretoria compareceu ao seminário para falar de pontos como viabilidade econômico, financeira e socioambiental do plano. Só para a área de energia elétrica, o PDE prevê investimentos da ordem de R$ 214 bilhões nos próximos 10 anos, com peso para a presença das usinas hidrelétricas, eólicas e de biomassa.
Nos próximos 10 anos, a EPE projeta a instalação de 35.245 MW, frutos de projetos já licitados e que já estão em construção (2/3), como Jirau e Santo Antônio, e outros com as obras para serem iniciadas, como Belo Monte. Segundo o Plano Decenal, 22.151 MW serão viabilizados, sendo que até 2019, está prevista a entrada em operação de 13 mil MW do total de hidrelétricas contempladas no documento. A outra parte só terá instalação concluída além do horizonte do plano. Entre as usinas estão São Luiz do Tapajós (6.133 MW), Jatobá (2.336 MW), Teles Pires (1820 MW) e Serra Quebrada (1.328 MW).
O documento também prevê a instalação de 14.655 MW de fontes alternativas, número correspondente a uma Itaipu, representando 23% dos 63.480 MW projetados para os próximos anos. Nos próximos 10 anos, para atender a projeção de crescimento de 5,1% da demanda, o país precisa agregar cerca de 6,3 mil MW de nova capacidade por ano. Ou seja, 3.333 MW médios de energia firme.
Segundo os participantes do seminário, a edição 2010/2019 do PDE representa um avanço em relação a documentos passados. No entanto, eles mostraram algumas preocupações. Uma delas diz respeito ao licenciamento ambiental para as hidrelétricas previstas no plano. Não bastasse a geração, a questão ambiental também começa a ser um ponto crítico para a instalação das linhas de transmissão. Para os agentes, não dá para ter um plano, por conta de problemas ambientais e possíveis atrasos de obras, sem levar em conta as usinas térmicas, sobretudo as que usam gás natural.
“Uma preocupação é a aderência do PDE ao Plano Nacional de Energia 2030, que leva em conta a entrada das usinas nucleares”, observou Luiz Fernando Leone Vianna, presidente do conselho de administração da Apine. Outro ponto destacado durante o seminário foi a necessidade de garantir a regularização dos reservatórios das hidrelétricas, considerado um fator de segurança para o futuro do abastecimento de energia.
Além da forte opção pela entrada das hidrelétricas nos próximos 10 anos, o planejamento também abriu espaço para as renováveis como eólicas, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e biomassa, cujo investimento estimado é de R$ 31 bilhões. Os investidores destas alternativas energéticas, no entanto, acreditam que existe espaço para mais.
“Os 2.923 de MW de pequenas centrais hidrelétricas são relevantes, mas este número poderia ser maior”, apontou Fábio Dias, diretor executivo da Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica (APMPE). No caso da biomassa, a estimativa é que a capacidade salte dos atuais 5.380 MW para 8.521 MW nos próximos 10 anos, ou seja, um crescimento de 58%. Por exemplo, Carlos Roberto Silvestrin, diretor da Cogen, diz que este número pode crescer com o retrofit de usinas. Só em São Paulo 115 usinas poderiam possar por este processor e gerar mais energia.
Fonte: Ambiente Energia (maio)
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