segunda-feira, 7 de junho de 2010

Futuro da energia em debate no IAEE

A produção de etanol a partir de algas deve ser uma das tecnologias energéticas que estarão na ordem do dia dentro de cinco a dez anos. Quem faz a avaliação é o analista de energia e presidente da United States Association for Energy Economics (USAEE), Joseph Dukert, que deu entrevista por e-mail ao portal EnergiaHoje. Dukert estará no Rio na próxima segunda-feira (6/6), como presidente da sessão The Future of Energy: new energy policies and technologies, no 33º IAEE International Conference, que será realizado de 6 a 9 de junho, no Rio.
Dukert enumera ainda outras tecnologias que podem surgir no médio e longo prazo, como projetos convincentes de seqüestro e captura de carbono, crescimento do gás de xisto como fonte de energia, redução das usinas nucleares e o início das aplicações com nanotecnologia. Projetos de eficiência aplicados a edifícios e ao transporte também serão realidade. O especialista, contudo, não acredita que o hidrogênio vá substituir o petróleo para uso no transporte. Ele acredita que até lá, outras tecnologias já terão ultrapassado ambas.
O especialista considera que os governos devem ter o papel de apoio na viabilização de novas tecnologias energéticas. Entre as iniciativas que seriam papel natural dos governos estaria a pesquisa básica e aplicada, bem como o financiamento de projetos que exigirem capital intensivo. Ele alerta, contudo, que as nações não devem cair no erro de introduzir controle de preços para introduzir novas tecnologias ou fontes energéticas.
Que temas serão abordados durante a sessão The Future of Energy: new energy policies and technologies?
A abertura da sessão plenária que presido tentará definir um tema de discussão para toda a conferência, pedindo especialistas em energia dos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil para discutir as formas que os governos e as empresas privadas podem abordar tecnologias em rápida evolução que provavelmente vão afetar tanto a oferta e a demanda de vários tipos de energia. Espero uma grande variedade de respostas, porque cada país tem seu próprio conjunto de recursos, necessidades e interesses nacionais. Cada empresa tem metas que deverão ser adequados à sua situação individual, capacidades e missão.

Quais são as tecnologias que vão mudar o setor de energia no curto e médio prazos?
No curto prazo (2 anos), o desenvolvimento de novas abordagens para a segurança na perfuração offshore, devido ao derramamento de óleo no Golfo do México; a aplicação de tecnologias de eficiência energética que já existem a mais edifícios e sistemas de transporte, reduzindo a demanda por energia; e alguma surpresa que não podemos prever. Por exemplo, pode ser um avanço em nossa capacidade de remoção de dióxido de carbono dos gases de escape, pode ser um novo desenvolvimento na produção de baixo custo da energia fotovoltaica de película fina.

E no médio prazo?
No médio e longo prazos (5 a 10 anos), eu citaria o desenvolvimento de processos economicamente competitivos para produção de etanol a partir de material celulósico em vez de alimentos (açúcar ou milho), provavelmente por tratamento térmico e químico assistido por enzimas, mas possivelmente através do uso de algas; crescimento para além dos EUA e Canadá do gás de xisto como fonte de combustível, especialmente na Europa Oriental e China; captura e sequestro de carbono de forma convincente ou uma combinação de oferta e procura de tecnologias que serão introduzidas para minimizar a dependência do carvão no mundo em desenvolvimento. Além disso, acho que vão continuar vigorosamente os esforços dos Estados Unidos e alguns outros países desenvolvidos para mudar gradativamente do carvão para o gás natural como combustível para diminuir o espaço até que as energias renováveis, como solar e eólica, possam ser combinadas com redução aceitável do crescimento do consumo de energia para fazer diferença em grande escala. Na área de energia nuclear, considero que as centrais nucleares serão sensivelmente diferentes das 400 e tantas que operam no mundo de hoje, provavelmente em tamanhos menores e, talvez, com ciclos de combustível que são mais resistentes à proliferação de armas nucleares. Cito ainda as aplicações da nanotecnologia e o início de uma rede inteligente nos EUA e os desenvolvimentos comparáveis em outras partes do mundo.

O que os governos devem fazer para viabilizar as tecnologias energéticas?
A pesquisa básica e aplicada, desenvolvimento e demonstração estão entre áreas naturais de um governo moderno. Na maioria dos casos, novas tecnologias necessitam de apoio em primeiro lugar e isto é particularmente verdadeiro nas circunstâncias atuais – quando os preços de mercado não abrangem as "externalidades" associadas com a busca de cada país para a energia adequada, confiável, acessível e aceitável para o meio ambiente. A introdução de novas tecnologias exige também capital intensivo. A natureza do apoio dos governos deve variar de acordo com situações específicas. Os controles de preço, no entanto, são contraprodutivos de diversas formas, e devem ser evitados.

Quais são as principais dificuldades para a inserção das novas tecnologias nas matrizes energéticas?
Tempo para se reorganizar, tempo para desenvolver infraestrutura de apoio – por exemplo, veículos e postos de combustível que podem acomodar etanol ou outros combustíveis alternativos –, tempo para converter os recursos energéticos em "reservas provadas" e tempo para a fase de instalações existentes. Muitos planejadores, tanto no governo quanto no setor privado, não apreciam o fato de que os esforços para comprimir os cronogramas exigem compensações em outros objetivos políticos desejáveis.

Quando, na verdade, o hidrogênio vai substituir os combustíveis fósseis no transporte?
Certamente não no "médio prazo". Muito possivelmente, nunca. O hidrogênio é caro para produzir em grandes quantidades, é difícil distribuir, e muito difícil de transportar nos veículos – mesmo como um motor de combustível ou com a entrada de células combustíveis. Quando a tecnologia do hidrogênio tiver se transformado o suficiente para eliminar estes inconvenientes, já deveremos ter frotas inteiras dos sistemas de transportes alternativos. Sua maior concorrência contra a hidrogênio fará penetração no mercado por esse combustível ainda menos provável.
Fonte: Portal Energia Hoje - 4/6

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