Depois do preço atingido pela energia gerada a partir dos ventos nos últimos leilões promovidos pelo governo - R$133 por MWh - a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) iniciou estudos para preparar a fonte para a negociação no mercado livre de energia. A entidade criou um grupo de trabalho para a questão, liderado pela CPFL Energia. De acordo com Ricardo Simões, presidente da associação eólica, uma consultoria será contratada para fechar uma versão final das análises e propostas do grupo e apresentar o trabalho ao governo.
"Queremos ter algo bastante embasado para negociar com o governo. Esse material deve estar pronto em meados deste ano, para no segundo semestre iniciarmos as conversas", adianta Simões. O executivo revela que alguns dos pontos que serão levantados pela Abeeólica serão a aplicação de incentivos à fonte devido a algumas de suas vantagens, como a complementaridade com as hidrelétricas e o fato de a geração ao longo do dia acompanhar a curva de carga, com mais vento nos horários de ponta.
Simões também afirma que os empreendedores do setor já pensam em oferecer aos consumidores livres soluções mais complexas, como pacotes de fontes renováveis, envolvendo energia de usinas eólicas, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e, eventualmente, plantas solares. "Parques mistos, negócios mais sofisticados, como uma cesta de produtos renováveis, levariam mais segurança para o consumidor", explica Simões, destacando que a complementaridade entre as fontes é um ponto fundamental nessa ideia.
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, destaca que a energia eólica "atingiu um preço competitivo, de mercado". Segundo ele, isso torna o Brasil um dos únicos, senão o único, país do mundo em que a fonte poderá ser comercializada no mercado livre sem subsídios. Tolmasquim afirma que a forma de cálculo da garantia física - justamente o grande questionamento dos investidores e consumidores interessados nessa energia - seguiria a metodologia utilizada para a fonte no leilão de 2010.
A dúvida do mercado é sobre quais garantias seriam utilizadas para compensar a sazonalidade e as incertezas que envolvem a geração eólica, dependente do regime de ventos. Para Tolmasquim, essa negociação deve ser feita entre os próprios empreendedores, e não depender do governo. "Os consumidores vão colocar nos contratos as garantias que quiserem". Para o executivo da EPE, nada impede também que parques eólicos sejam destinados à autoprodução de energia. "Não vejo problema nenhum. É claro que o consumidor sempre vai ter que ter um backup, porque a energia (dos ventos) é sazonal, mas é totalmente possível".
Centro de pesquisas
Como o Jornal da Energia já havia adiantado, a Abeeólica também pretende ter conversas com o governo sobre a construção de um centro de pesquisas e testes para a fonte no País. O presidente da entidade, Ricardo Simões, destaca a importância de dominar a cadeia tecnológica na fabricação e operação de aerogeradores.
"Temos agentes interessados (em implantar o centro) e outros vocacionados a ter interesse, como Aeronáutica, ITA, Petrobras, Eletrobras e fabricantes de equipamentos", lista Simões. Segundo o executivo, a ideia é discutir uma forma de viabilizar o empreendimento, que poderia ser estatal, privado ou misto, com participação tanto do governo e de estatais quanto das empresas do setor. "Vamos conversar diretamente com o Ministério de Minas e Energia e com o ministro Mercadante (do Ministério de Ciência e Tecnologia). A universidade também tem que vir para esse debate", destaca o presidente da Abeeólica. Para ele, porém, é "fundamental" que os fabricantes instalados no País façam parte do desenvolvimento do centro de inovação.
Mercado otimista
O Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês) também mostra animação com o momento do setor eólico brasileiro. O secretário-geral da entidade, Steve Sawyer, afirma que está satisfeito com o modo como a fonte tem crescido no País. Ele destaca que o momento econômico brasileiro deve impulsionar o crescimento da geração a partir do vento e faz uma aposta ousada. "A América Latina vai competir com a Europa e os Estados Unidos pelo segundo lugar no mercado eólico, creio que nos próximos cinco anos. E será liderada pelo Brasil".
Fonte: Jornal da energia 9/2
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