domingo, 16 de dezembro de 2012

Energias renováveis reféns dos metais raros

As energias renováveis não estão totalmente imunes às relações de dependência de recursos. Isto porque muitos dos componentes destas novas tecnologias energéticas recorrem a um conjunto de minérios denominados metais raros, como o lítio, usado nos carros elétricos. É de notar que cerca de metade das reservas mundiais de lítio encontra-se na Bolívia.
E a China é responsável pela produção de 90% dos metais raros no mercado global, travando actualmente uma guerra comercial na OMC, devido às suas intenções de limitar as exportações destes recursos críticos para a alta tecnologia .
Segundo um estudo da Federation of American Scientists , prevê-se uma procura mundial de metais raros em cerca de 136 mil toneladas por ano, e deverá chegar a pelo menos 185 mil toneladas anuais até 2015.Com o crescimento global contínuo da classe média, especialmente na China, Índia e África, a procura continuará a crescer.
Os metais raros são compostos por 17 elementos utilizados em produtos electrónicos de alta tecnologia (TV Led, iPad, etc.) e em tecnologias energéticas renováveis e eficientes. Por exemplo, metais exóticos como o neodímio, térbio e disprósio são ingredientes essenciais para os magnetos das turbinas eólicas. Com efeito, um estudo do MIT projeta que a procura de neodímio pode crescer em até 700 por cento nos próximos 25 anos e a de disprósio pode aumentar em 2.600 por cento.
De acordo com um paper recente de Peter Kelemen, professor de Geoquímica no Lamont-Doherty Earth Institute , a energia eólica tem crescido cerca de 7 por cento ao ano, aumentando em um fator de 10, na última década. Segundo aquele especialista, cada megawatt de eletricidade precisa de 200 quilos de neodímio ou 20 por cento de uma tonelada. Portanto, se cada turbina eólica de grande porte produz um megawatt, cinco turbinas exigirão uma tonelada de neodímio.
Conclusão lógica: se o vento vai desempenhar um papel estratégico na substituição de combustíveis fósseis para a geração de eletricidade, então é necessário aumentar a oferta de neodímio no mercado global.
Mas as turbinas eólicas não são as únicas afectadas por esta nova dependência de recursos. Os veículos elétricos utilizam o lítio e o níquel-metal-hidreto. O ítrio é necessário para as células de combustível e o európio para as lâmpadas led. E um conjunto de metais do grupo da platina é aplicado como catalisador em tecnologia de células de combustível.
E a potência industrial alemã também tem aqui o seu calcanhar de aquiles. É que cerca de 400 mil milhões do valor produzido pela máquina fabril germânica necessita de metais raros para funcionar. Ou seja, 30% do total produzido.
Portanto, se a Europa escolher as renováveis como a base do seu sistema, tem de necessariamente conceber uma estratégia de segurança de abastecimento de metais raros, pois o conflito geopolítico sobre estes recursos adivinha de elevada intensidade.
Fonte: Expresso.sapo.pt 06/12

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