segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Muito além da soja

O diesel brasileiro deverá ter 2% de biodiesel a partir do ano que vem, proporção que deverá aumentar para 5% em 2012. Mas a baixa produtividade por hectare de soja e a baixa produtividade energética poderão ser ameaças importantes à sustentabilidade tanto da meta do governo federal como do próprio programa de biodiesel no Brasil, segundo o engenheiro Luiz Augusto Horta Nogueira, professor titular da Universidade Federal de Itajubá e consultor da Organização das Nações Unidas.
Para ele, o programa desejável de biodiesel no país não passa pela soja ou pela mamona, como apontam muitos entusiastas. “O biodiesel é uma alternativa em desenvolvimento, no qual as matérias-primas não apresentam vantagem”, afirmou em entrevista à Agência FAPESP, no Rio de Janeiro.
Nogueira participou do simpósio Energia no Brasil, uma das atividades do encontro Avanços e perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe, promovido na sede da Academia Brasileira de Ciências e que termina nesta sexta-feira (7/12).
Agência FAPESP – Há um grande entusiasmo em relação ao uso do biodiesel no Brasil. A meta do governo federal é que até 2012 o diesel brasileiro tenha 5% de biodiesel. Isso será possível?
Luiz Augusto Horta Nogueira – Acho que, infelizmente, não. O biodiesel é uma alternativa em desenvolvimento, no qual as matérias-primas não apresentam vantagem, uma vez que têm custos elevados na produção. Há uma demanda de recursos naturais alta para produzir unidades energéticas. O biodiesel que temos hoje no Brasil provém em 80% da soja e será uma pena levar adiante um programa de biocombustível usando essa planta. A baixa produtividade por hectare e a baixa produtividade de energia por energia investida são os maiores problemas para a sustentabilidade desse programa. Se fizermos biodiesel de uma palma de dendê, teremos produtividade dez vezes maior do que a da soja e um consumo de energia 3 a 4 vezes mais baixo.
Agência FAPESP – Então, uma vez que existem outras alternativas, o programa de biodiesel não deve ser totalmente descartado?
Nogueira – O programa que propõe o uso do sebo e do óleo de dendê é promissor. O problema é que 80% do programa existente é em cima da soja, cuja colheita pode ser boa, mas a produtividade é baixa. O programa desejável de biodiesel no Brasil certamente não passa pela soja ou pela mamona. As palmeiras representam boa alternativa: têm baixo consumo por unidade de energia produzida e cultivo perene. Já a soja tem cultivo anual. Existe uma gama de palmáceas que seriam boas alternativas.
Agência FAPESP – As perspectivas são boas em relação ao etanol?
Nogueira – A indústria do etanol é mais madura e apresenta índices excelentes de desempenho. O etanol tem uma historia mais consistente. Ele é usado há mais de 80 anos no Brasil. O uso obrigatório de álcool misturado na gasolina vem desde 1931. Certamente, é a alternativa mais viável em todos os sentidos.
Fonte: Agência FAPESP

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