sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Relatório sobre biocombustíveis causa polêmica na União Européia

BRUXELAS (AFP) — Especialistas da União Européia criticaram as propostas do bloco para promover o uso de biocombustíveis nos transportes, afirmando que seus custos superam os benefícios, segundo um documento interno da Comissão Européia ao qual a AFP teve acesso nesta sexta-feira (18/01).
Segundo o estudo elaborado por um centro de pesquisas financiado por Bruxelas, o aumento de 10% no uso de biocombustíveis utilizados nos transportes na UE até 2020 teria um custo enorme para os contribuintes estimado entre 35 bilhões e 65 bilhões de euros (48 bilhões a 95 bilhões de dólares).
Imediatamente, a Comissão Européia saiu em defesa da iniciativa, assegurando que o relatório em questão é um dos vários com os quais conta Bruxelas e que o balanço global é favorável à idéia de impulsionar os biocombustíveis.
"Economicamente falando há apenas uma opção: os biocombustíveis. É bom para o meio ambiente, é bom para o transporte e é bom para a agricultura européia", disse o porta-voz da Comissão para questões energéticas, Ferran Tarradellas.
No entanto, a polêmica em torno do desenvolvimento maciço ou não desta fonte de energia renovável, que tem o Brasil como um dos maiores produtores mundiais, está instalada há algum tempo na UE e foi reforçada por este estudo.
"O que mostra a análise do custo-benefício é que há caminhos melhores do que produzir biocombustíveis para se obter a redução dos gases causadores do efeito estufa e melhorar a segurança do abastecimento", indica o documento.
"Os custos dos biocombustíveis da UE superam os benefícios", acrescentam os especialistas, que advertem também sobre a conveniência de utilizar grandes extensões de terra cultiváveis com esse objetivo, por exemplo, dedicando-as ao plantio da cana-de-açúcar.
O relatório conclui que utilizando os mesmos recursos financeiros e por meio do desenvolvimento da biomassa, a UE pode conseguir reduzir de forma significativa suas emissões de gases causadores do efeito estufa.
A meta de 10% de biocombustíveis no consumo de combustíveis dos transportes na UE foi estabelecida em março de 2007 pelos chefes de Estado e de governo do bloco. Atualmente, essa percentagem chega a 3%, o triplo de 2005.
Para alcançar essa cifra, a UE deverá aumentar sua produção, mas também importar biocombustível, uma possibilidade que interessa muito à América Latina, onde os cultivos dedicados a esse fim aumentam a passos largos.
Esta expansão despertou preocupação entre os grupos ambientalistas por suas possíveis conseqüências negativas, e em novembro passado eurodeputados e associações indígenas e agrárias latino-americanas exigiram em Bruxelas uma moratória para o desenvolvimento dos biocombustíveis.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) havia expressado um mês antes sua inquietude pelo impacto de uma utilização maior de cereais para a fabricação de combustíveis "verdes" sobre os preços dos produtos alimentícios, sobretudo nos países pobres.
O FMI também questionou as vantagens econômicas para os países ricos em desenvolver a produção de biocombustíveis para enfrentar o aumento das cotações do petróleo, assegurando que "apenas o etanol brasileiro derivado da cana-de-açúcar é mais barato que a gasolina ou o etanol elaborado a partir do milho".
Fonte: AFP

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