quarta-feira, 16 de abril de 2008

Crítica a biocombustíveis cresce. Brasil vai reagir

A adoção em larga escala dos biocombustíveis, como alternativa às fontes de energia fósseis, foi duramente criticada nesta segunda-feira pelo relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler. Em entrevista a uma rádio alemã, citada pela agência de notícias APF, ele defendeu que a produção em massa de biocombustíveis representa “crime contra a humanidade” por seu impacto nos preços mundiais dos alimentos. Nesse contexto, a Comissão Européia indicou que vai propor a supressão das subvenções para os cultivos destinados à produção de biocombustíveis.
As críticas aparecem no momento em que o governo e empresários brasileiros acenam com uma estratégia para promover o etanol combustível, feito a partir da cana-de-açúcar, e minimizar as resistências ao produto. A Unica, associação paulista do setor sucroalcoleiro, acaba de abrir um escritório em Bruxelas, na Bélgica, para difundir informações, a exemplo do que já acontece em Washingtron (EUA).
'Davi contra Golias’ – A preocupação com a crescente resistência ao etanol na Europa esteve presente também nos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Holanda, na semana passada. Governo e empresários holandeses deixaram claro a Lula que o mercado europeu só se abrirá para o biocombustível se ele obtiver uma certificação de que sua produção é ecológica e socialmente correta.
Maurílio Biagi, usineiro e dirigente da Unica, comparou a batalha entre brasileiros e europeus pela adoção do etanol a uma “luta de Davi contra Golias”. “Hoje vivemos uma civilização do petróleo. Quando surge uma coisa nova, a reação é enorme”, disse, segundo reportagem do site do jornal Valor Econômico. “Somos o único país do mundo em que o consumidor pode chegar à bomba e escolher entre um combustível fóssil, que é a gasolina, ou renovável, que é o álcool. E normalmente opta pelo álcool, porque custa quase a metade. Nós conseguimos, com o combustível alternativo, concorrer com o fóssil, o que era inimaginável anos atrás.”
Ele afirmou ainda que existe “hipocrisia muito forte com relação ao etanol”, por parte dos críticos à adoção da tecnologia. “Nenhuma crítica é justificada. Nem a ambiental, nem a social, nem a econômica”.
Desabastecimento – As críticas do relator do ONU ecoam a opinião dos críticos dos biocombustíveis. Eles alegam que o uso de terras férteis para cultivos destinados a fabricar biocombustíveis reduz as superfícies destinadas aos alimentos e contribui para o aumento dos preços dos mantimentos.
Em entrevista ao jornal francês Liberation, Ziegler também advertiu que o mundo se dirige para "um período muito longo de distúrbios e outros tipos de conflitos derivados da escassez de alimentos e aumentos de preços". Vários dirigentes europeus já manifestaram preocupação com a utilização da produção agrícola com fins energéticos em detrimento dos alimentos, num contexto de alta dos preços das matérias-primas.
"A produção agrícola com fins alimentares deve ser claramente prioritária", afirmou o ministro francês da Agricultura, Michel Barnier. A França propôs nesta segunda-feira uma iniciativa européia frente ao aumento de preços das matérias-primas e a crise alimentar que isto provoca, impulsionando um apoio reforçado à agricultura comunitária e uma ajuda maior a este setor nos países pobres.
Fonte: Veja

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