terça-feira, 8 de abril de 2008

No RJ, eficiência movimenta idéias

Se depender do COPPE, da UFRJ, a mobilidade urbana carioca ganhará três fortes aliados, em breve: o trem de levitação magnética, o combustível a biodiesel e o ônibus a hidrogênio. Conheça os projetos desenvolvidos e como eles podem ajudar a enfrentar esse problema tão moderno.


Com o objetivo de buscar novas opções de mobilidade dentro dos centros urbanos, a Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia - COPPE, da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro, centro de excelência na pesquisa de novas tecnologias, aposta em projetos dedicados ao desenvolvimento de transportes e combustíveis alternativos.

Um deles é o trem de levitação magnética, projetado pela equipe do Laboratório de Aplicações de Supercondutores - LASUP, batizado de Maglev-Cobra. "Ele foi idealizado como um meio de transporte coletivo para fazer deslocamentos dentro do perímetro urbano", explica Richard Stephan, coordenador do projeto.

A levitação magnética não é novidade no mundo: já existem os famosos trens-bala, que cruzam China, Alemanha e Japão, utilizando essa tecnologia. No caso do Maglev-Cobra, a grande novidade é a utilização de pastilhas supercondutoras, compostas de ítrio, bário e cobre, que substituem as rodas. Entre esses módulos de levitação e os trilhos, surge um campo magnético de repulsão a partir do esfriamento dos supercondutores a temperatura negativa de 196º C, com o uso de nitrogênio líquido.

Esse efeito só pôde ser explorado, devidamente, a partir do final do século XX, com o surgimento de novos materiais magnéticos e pastilhas supercondutoras de alta temperatura e a COPPE foi pioneira na pesquisa dessa nova alternativa.

"A Alemanha também está interessada nos supercondutores, por isso, estamos promovendo um intercâmbio entre nossos pesquisadores e os do Instituto IFW - Leibniz Institute for Solid State and Materials Research, informa Stephan.

Os pesquisadores brasileiros montaram no laboratório da COPPE um protótipo do trem e um trilho de 30 metros de extensão, para testar a tecnologia. A segunda etapa do projeto prevê testes em escala real, seguidos de uma primeira utilização do veículo para o transporte de pessoas dentro da Ilha do Fundão, na Cidade Universitária.

"O Maglev-Cobra se revela como ótima alternativa para o Rio de Janeiro. Enquanto a construção de um metrô subterrâneo, aqui, tem o custo de R$ 100 milhões/km, o sistema de levitação poderá ser implementado por cerca de R$ 33 milhões, ou seja, um terço desse valor", diz o pesquisador.

Apesar de atingir somente 70 km/h, o Maglev-Cobra pode operar com inclinações de até 15%, ao contrário dos trens-bala, que só trafegam em rampas de até 4% de inclinação. Sua estrutura, articulada em módulos de 1 metro de comprimento, permite, ainda, que o veículo faça curvas acentuadas.

Já o consumo de energia elétrica do Maglev-Cobra será de 25 kJ (quantidade de energia gasta para transportar cada passageiro por quilômetro). Para se ter uma idéia, o consumo de um ônibus comum é de 400 kJ. "O trem de levitação é um meio de transporte não-poluente, silencioso e econômico, alimentado, fundamentalmente, por energia elétrica", conclui Stephan.
ÓLEOS VIRGENS E DESCARTADOS, COMO COMBUSTÍVEL
Para alimentar os motores possantes de ônibus e caminhões, a COPPE vem desenvolvendo, também, estudos e tecnologias para viabilizar a produção e o uso do biodiesel no Brasil, uma fonte de energia sustentável que pode substituir o diesel.
As pesquisas realizadas na COPPE têm sido usadas como referência para a implementação da política de biodiesel do Governo Federal. Foi com base nessas pesquisas que o governo autorizou, em 2005, a inserção de 2% de biodiesel na composição do diesel mineral, sem que fosse necessário fazer qualquer adaptação nos veículos já em circulação.
A COPPE produz biodiesel a partir de óleo de soja e de óleo de fritura descartados, numa planta com capacidade para produção de 1.200 litros/batelada (cada batelada leva de uma a quatro horas, dependendo da matéria-prima).
No Laboratório de Análises Químicas da COPPE, é feita a avaliação para constatar se o combustível atende às especificações de qualidade da Agência Nacional de Petróleo - ANP. A partir dessa etapa, ele é enviado ao Instituto Nacional de Tecnologia - INT, que é credenciado pela ANP para emitir laudos de aprovação do combustível.
Hoje, a COPPE fornece biodiesel para caminhões da Comlurb - Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro e para ônibus da empresa Viação Real, a partir de um projeto com o Governo do Estado do Rio. "Apesar de ser 10% menos eficiente do que o diesel, a utilização de motores a biodiesel compensa pela redução da produção de gases do efeito estufa. Além disso, a sua cadeia produtiva envolve trabalhadores que atuam na plantação de oleaginosas e, também, no recolhimento de óleos descartados, portanto, há um respaldo social também na sua produção", explica o engenheiro de transportes Aurélio Lamares Soares Mirta, pesquisador do IVIG - Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais, da COPPE.
HIDROGÊNIO EM TECNOLOGIA NACIONAL
Outro projeto que contempla o transporte coletivo sustentável dentro das cidades, é o ônibus a hidrogênio, desenvolvido pelo Laboratório de Hidrogênio da COPPE. Com 12 m de comprimento - tamanho de um ônibus urbano convencional - o veículo poderá transportar 80 passageiros.
Mas o grande diferencial desse ônibus é a sua tecnologia, desenvolvida inteiramente por pesquisadores brasileiros. "Em outros veículos já existentes no mundo, a pilha de hidrogênio, por meio de uma reação eletroquímica, gera energia elétrica diretamente para o motor. Mas, no nosso caso, criamos também um banco de baterias, que pode ser alimentado por outras duas vias: por conexão a uma rede elétrica externa e, ainda, com a regeneração de energia cinética em energia elétrica, ou seja, o próprio movimento do veículo é aproveitado como fonte de energia", explica o pesquisador Paulo Emílio Valadão de Miranda, coordenador do projeto.
O ônibus híbrido da COPPE também tem outros segredos: como o banco de baterias é grande, a quantidade de hidrogênio necessária para alimentar o motor é menor. "Hoje, já há veículos que utilizam a tecnologia mista, mas o nosso manejo da energia dentro do veículo é inovador", diz Miranda.
O design, com base em princípios da ergonomia, inclui, ainda, uma via especial de acesso a portadores de deficiência física, com espaço destinado a abrigar cadeiras de rodas alinhadas aos demais assentos. O projeto prevê que o veículo circule inicialmente na Cidade Universitária, na Ilha do Fundão e, a partir de 2009, passe a trafegar por uma rota convencional, transportando passageiros pelas ruas do Rio de Janeiro. Boas idéias, que o carioca torce para ver, logo, circulando por aí.
Fonte: ABESCO

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