sexta-feira, 23 de maio de 2008

Brasil dominará ciclo completo do urânio

A expectativa de tirar do papel a usina nuclear de Angra 3 colocará o Brasil, até 2014, no seleto grupo de países que domina o ciclo completo de enriquecimento de urânio.
O objetivo da iniciativa, que será desenvolvida pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB), é acabar com a dependência brasileira de tratar o minério no exterior.
Em entrevista ao Jornal do Commercio, o presidente da INB, Alfredo Tranjan Filho, revelou que a intenção do governo é a de construir uma unidade de gaseificação e outra de enriquecimento do produto.
A primeira tem orçamento preliminar de R$ 250 milhões, enquanto a segunda, nos moldes da unidade-piloto da Fábrica de Combustível Nuclear (Resende-RJ), exigiria investimento de R$ 550 milhões.
Tranjan Filho explica que, atualmente, o Brasil realiza apenas a lavra do urânio, extraído da reserva de Caetité (BA), e o transforma em yellow cake, um concentrado do minério. O yellow cake então é transportado ao Canadá, onde é gaseificado.
De lá, o produto segue para a Europa, onde é enriquecido em unidades da Urenco, uma das maiores companhias especializadas em enriquecimento de urânio no mundo.
"Com as duas unidades, todo o processo será feito no Brasil.
Vale destacar que o Brasil já detém a tecnologia de enriquecimento do urânio, conhecida por poucos países.
Com a usina de Angra 3 em operação, será muito importante dominar todo o processo", ressalta o executivo. Anualmente, são produzidas 400 toneladas de urânio concentrado no Brasil, mas o plano da INB é dobrar o volume até 2014.
No cronograma da INB, a primeira unidade a ficar pronta seria a de enriquecimento do urânio, prevista para 2012.
A tecnologia já vem sendo testada na Fábrica de Combustível Nuclear, que aguarda o sinal verde do Comitê Nacional de Energia Nuclear para dar início à produção em escala comercial.
Tranjan não revelou quais seriam as quantidades a serem tratadas na unidade.
Já a gaseificação tem data estimada de operação para até 2014, com capacidade de processar de 1 mil tonelada/ano a 2 mil toneladas/ano.
"Se houver excedente, poderemos atender a clientes", acrescenta Tranjan Filho.
Enquanto as unidades não são construídas, o Brasil mantém o envio do yellow cake ao exterior.
Na próxima semana, será feito um dos maiores embarques já realizados pela INB, de 175 mil toneladas do produto.
Ao retornar, o material será destinado à recarga do reator da usina de Angra 1.
A cada um ano, é necessária a troca de um terço do material utilizado nos reatores.
Ainda na busca pelo aumento da produção nacional, a INB está em fase final de definição da empresa privada que atuará em sistema de parceria na lavra do minério.
A concorrência, aberta para o depósito de Santa Quitéria (CE), prevê a exploração de urânio associado a fosfato.
Caberá à companhia vencedora fazer a separação dos produtos, cabendo a ela a comercialização do fosfato e o direcionamento do urânio a INB.
De acordo com levantamentos realizados pela INB, a mina de Santa Quitéria teria capacidade para produzir 120 mil toneladas/ano de fosfato e 800 toneladas/ano de urânio.
Diante deste potencial, a estimativa é de que o parceiro privado entre com recursos de US$ 110 milhões, enquanto à INB caberia outros US$ 20 milhões.
O montante seria utilizado na construção da unidade de benecifiamento e tratamento do urânio lavrado.
O Brasil detém a sexta maior reserva mundial de urânio, com cerca de 309 mil toneladas, mas somente 30% do solo nacional foram prospectados.
"O consumo das duas usinas é de 470 toneladas a cada um ano e quatro meses.
Apesar de ser suficiente, é importante que a produção não fique restrita a uma única mina.
Ficaríamos muito vulneráveis", diz o executivo.
Fonte: Jornal do Commercio

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