terça-feira, 26 de maio de 2009

José Goldemberg fala de matriz energética e novas tecnologias

Físico do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais ilustres cientistas do país, José Goldemberg vai participar como palestrante da Conferência Internacional Ethos 2009, que acontecerá entre os dias 15 e 18 de junho, em São Paulo. Ele estará na plenária Oportunidades Geradas pela Busca por uma Matriz Energética Mais Sustentável, que irá debater sobre como essa nova matriz pode promover uma economia de baixo carbono, qual é o papel das empresas e dos governos nesse processo e que inovações será necessário introduzir para adotarmos essa nova matriz.

Ex-reitor da USP, ex-ministro da Educação, secretário nacional do Meio Ambiente durante o governo de Fernando Collor e secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo no governo de Geraldo Alckmin, Goldemberg foi crítico das usinas nucleares já nos anos 1970 e um dos responsáveis pela criação do Proálcool.

O entrevistado trouxe importantes contribuições para a maneira como o Brasil e o mundo veem a questão energética. Seu livro Energia para um Mundo Sustentável, feito em parceria com outros pesquisadores, ajudou a quebrar o paradigma vigente até as décadas de 1970 e 1980, de que energia era algo diretamente ligado ao produto interno bruto e que, quanto mais fosse usada, melhor seria. Em 2008, Goldenberg recebeu o Prêmio Planeta Azul, considerado o Nobel do Meio Ambiente.

Confira a entrevista concedida por e-mail à jornalista Neuza Árbocz, para o Instituto Ethos.

Instituto Ethos - A troca da matriz energética é essencial para conter a poluição e as mudanças climáticas que a Terra enfrenta. Há condições para que ela ocorra a curto prazo?

José Goldemberg - Sim. Combustíveis fósseis representam hoje 80% do consumo energético mundial. Há condições para mudar a matriz, mas isso vai exigir um enorme esforço de todas as nações.

IE - Quais são as tecnologias mais promissoras?

JG - Em primeiro lugar está a eficiência energética, sobretudo nos países industrializados. Em segundo lugar, é preciso dar maior ênfase ao uso de energias renováveis. E, em terceiro lugar, é preciso desenvolver novas tecnologias, como automóveis movidos a eletricidade.

IE - O que dificulta a adoção dessas novas tecnologias em larga escala? É somente o custo?

JG - É basicamente o custo, sim, pois já existem muitas tecnologias plenamente desenvolvidas, como a que se baseia em energia eólica e a fotovoltaica.

IE - Que países ou centros de pesquisas estão na frente no desenvolvimento e utilização de tecnologias limpas e viáveis do ponto de vista econômico, ecológico e social?

JG - Depende da tecnologia. O Japão, por exemplo, está avançado em células fotovoltaicas, enquanto os Estados Unidos estão adiantados na pesquisa em hidrólise enzimática e o Brasil, na produção de etanol da cana-de-açúcar.

IE - Hoje predominam sistemas centralizados de geração e fornecimento de energia. A produção em menor escala e localmente poderia ser uma solução?

JG - Não necessariamente, mas o uso de energia solar aponta nessa direção.

IE - É possível aproveitar melhor a energia gerada por movimentos mecânicos, como em academias de ginástica e danceterias, por exemplo?

JG - A energia produzida nesse tipo de atividade é muito pequena quando comparada com o que se gasta em combustíveis para automóveis ou para gerar energia elétrica.

IE - No que diz respeito à energia elétrica, em alguns países, os consumidores geram sua própria energia e revendem o excedente à rede geral. Isso é aplicável no Brasil?

JG - Isso já é feito no Japão e é de fato uma grande ideia. O problema é o custo das células fotovoltaicas para cobrir o telhado das casas.

IE - O que precisa ser feito para ampliar essa possibilidade em nosso país?

JG - Precisamos apenas de recursos.

IE - O governo brasileiro quer retomar investimentos na área nuclear. Isso faz sentido, considerando as possibilidades de geração de energia existentes e os riscos e custos ambientais e econômicos envolvidos na manipulação atômica?

JG - Não faz sentido retomar investimentos na área nuclear, porque o Brasil tem opções melhores do ponto de vista econômico e ambiental. As principais são a energia hidroelétrica e a geração de energia elétrica com bagaço.

IE - Que nível de impacto tem a extração de urânio sobre o solo e a água?

JG - Este não é realmente o problema mais sério da energia nuclear. Sério mesmo é o lixo nuclear.

IE - Por quanto tempo o lixo nuclear resultante da operação de uma usina mantém sua radiotividade? A sua disposição final é cem por cento segura?

JG - A radioatividade é mantida por pelo menos 10 mil anos. Não existe segurança de cem por cento em nenhuma atividade humana e algumas dessas atividades, como a geração de energia nuclear, são menos seguras do que outras.

IE - Quanto se desperdiça de energia no Brasil?

JG - O Brasil não é muito pior do que outros países, sob o ponto de vista de desperdício, mas pelo menos 20% a 30% da energia é desperdiçada.

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