Em 2007 uma concessionária de energia realizou um ciclo de palestras para projetistas, instaladores e consumidores. A apresentação principal foi feita por um consultor da empresa, doutor em engenharia.
Esta palestra nos mostrou a iminência de um novo “Apagão” devido à falta de chuvas e ao aumento da demanda provocada pelo crescimento econômico.
Em 2009 participei de uma reunião em uma indústria, que estava no mercado livre, sobre como tornar mais eficiente o seu consumo de energia.
Durante a reunião o representante do setor financeiro mostrou-se reticente sobre as vantagens deste investimento já que a indústria estava consumindo menos energia do que aquela contratada.
Entre esses dois eventos tudo mudou. A energia que se previa escassa tornou-se disponível. A economia que apresentava forte crescimento desacelerou-se e o cenário energético previsto em 2007 não se concretizou em 2009.
O titulo do artigo poderia ser “O que fazer para evitar o próximo apagão”, mas todo o aprendizado acumulado pelo setor elétrico não nos ensinou como mudar mentalidades ainda presas a um passado de energia abundante e alta inflação que não incentivava o planejamento energético em nossas empresas.
Abundância de gás Boliviano, conforto na oferta de álcool, segurança nos reservatórios das usinas hidrelétricas. Todas estas afirmações já foram feitas, sem que nenhuma delas tenha se concretizado de forma perene.
No seminário de 2007 várias sugestões foram discutidas. Da geração eólica à diminuição das perdas nas linhas de transmissão, passando por usinas nucleares, termoelétricas e eficiência energética. Apenas a opção do autor deste artigo foi deixada de lado. Como a maioria das medidas apresentadas só geraria o primeiro kWh entre 3 a 5 anos, afirmei que a solução para o racionamento seria a presença, como ocorreu, de empresários no evento.
Ao levar para investidores a perspectiva de uma falta de energia, os detentores do capital condenariam às gavetas qualquer investimento em produção previsto para entrar em operação no período de baixa oferta de energia. É lógico que nenhum investidor colocará seu capital em projetos que podem se inviabilizar pela falta de energia a preços que tornem seus produtos competitivos.
Após este evento o nível de chuvas nos reservatórios melhorou e a economia mundial desacelerou-se fortemente, ocorrendo o inverso de tudo que se previa. O que ocorreu não condena o planejamento e sim nos ensina que planejar e prever são conceitos diferentes e não podemos confundir o que é conjuntura com as tendências de longo prazo do país.
Na reunião em que participamos, os administradores da indústria foram alertados sobre um cenário que poderia mudar a qualquer momento, encarecendo significativamente o fornecimento de energia elétrica. Ao contrário da passividade,
medidas de médio e longo prazo deveriam ser implementadas para que a economia de energia e a eficiência energética se tornassem paradigmas da cultura de qualquer empresa.
Adaptar-se rapidamente a uma situação de racionamento não é um processo simples e o cenário a longo prazo aponta para o aumento de custos com a energia.
Por isso a minha desconfiança que um novo racionamento ainda poderá acontecer e aqueles que não aprenderam as lições do passado sofrerão com os erros já cometidos.
fonte: Sergio Roberto dos Santos (engenheiro eletricista, membro do conselho da Abracopel)
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