terça-feira, 20 de abril de 2010

América Latina terá papel estratégico em energias renováveis

A Convenção Latino-Americana do Projeto Global Sustainable Bioenergy (GSB), realizada na FAPESP entre os dias 23 e 25 de março, aprovou resolução que afirma o potencial de expansão da produção de bioenergia na América Latina sem o comprometimento da produção de alimentos, do meio ambiente e da biodiversidade. De acordo com a resolução, o continente já desempenha um papel importante na oferta de biocombustíveis, abrindo a perspectiva de atender tanto a demanda regional como a mundial. Possui terra, clima favorável, várias opções de matérias-primas e tecnologias que podem expandir-se por todo seu território de maneira sustentável. A resolução cita a produção de etanol no Brasil e de biodiesel na Argentina como exemplos de sucesso no continente na substituição de energia fóssil por renovável.
Articulação internacional de cientistas do setor energético, o GSB já havia promovido em fevereiro uma convenção na Europa, na Universidade de Delft, Holanda, e outra na África, na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, entre 17 e 20 de março. Novos encontros acontecerão ainda neste ano, na Ásia, na cidade de Skudai, na Malásia, e na América do Norte, em Mineápolis, Estados Unidos. Após as cinco convenções, o Projeto GSB cumprirá outras duas etapas. Primeiro, buscará responder se é possível suprir uma fração substancial da demanda energética a partir da produção de biomassa, sem comprometer o fornecimento de alimentos, a preservação de habitats naturais e a qualidade do meio ambiente. Em seguida, tentará propor estratégias viáveis e sustentáveis para a transição da atual matriz energética rumo a uma nova matriz, mais equilibrada e renovável.
As resoluções aprovadas nas convenções europeia e africana sugerem que as perspectivas do projeto são favoráveis. Embora demonstrem preocupações com a mudança no uso da terra, os europeus afirmaram, no documento que aprovaram, dispor de “capacidade de fornecer partes substanciais de suas exigências energéticas do futuro provenientes de bioenergia sustentável”. Os africanos enxergam na bioenergia uma janela de oportunidade para o desenvolvimento econômico de seus países, mas declararam que sua visão sobre bioenergia precisa levar em conta uma miríade de desafios, que incluem o enfrentamento da pobreza, a segurança alimentar, a segurança energética e a saúde. A resolução latino-americana é a mais assertiva das três construídas até agora.
O coordenador do Projeto GSB, Lee Lynd, da Thayer School of Engineering, Dartmouth College, nos Estados Unidos, fez elogios à disposição dos pesquisadores brasileiros de buscarem formas sustentáveis para produzir biocombustíveis, comportamento que, segundo ele, não se vê com facilidade.
“Outros países deveriam enfrentar o problema como o Brasil está fazendo. Os Estados Unidos, por exemplo, são mais defensivos em relação aos mecanismos de sustentabilidade, embora liderem a produção de etanol”, afirmou. Segundo Lynd, as indicações reunidas até agora sugerem uma resposta positiva à questão estabelecida pelo Projeto GSB. “O objetivo do projeto é tentar demonstrar o que é possível, com foco no que é desejável. Só assim será possível mobilizar os responsáveis pelas políticas públicas”, disse.
As dificuldades, segundo Lynd, decorrem de avaliações negativas arraigadas em certos meios e países sobre o potencial da matriz bioenergética, como, por exemplo, a possibilidade de faltar alimentos. “Há expectativas diferentes em relação à capacidade de inovação e de mudança de hábitos. Por isso há conclusões divergentes baseadas num mesmo conjunto de informações”, afirmou.
A questão da segurança alimentar, segundo ele, não pode ser descartada, pois mesmo sem a variável dos biocombustíveis não se descartam problemas no futuro com a oferta de alimentos. Lynd lembrou, porém, que é necessário buscar uma convergência em relação aos biocombustíveis, pois os padrões atuais de consumo de energia são claramente insustentáveis.
Fonte: Boletim ABESCO

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