sábado, 6 de novembro de 2010

Mineirão e Verdão serão centros de energia solar

Ensolarado o ano todo, o Brasil ainda não utiliza bem o que poderia uma fonte de energia limpa e renovável como a produzida a partir de painéis fotovoltaicos. Agora, dois estádios da Copa de 2014, o Mineirão (Belo Horizonte) e o Verdão (Cuiabá), estão prestes a instalar em suas estruturas sistemas para aproveitamento da energia solar. A proposta é que as concessionárias de energia locais possam armazenar e comercializar esta energia, atendendo a clientes particulares da área empresarial.

Mineirão
Em Belo Horizonte, os estudos para uso da energia fotovoltaica já vinham sendo desenvolvidos pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) antes mesmo que o Mineirão tivesse sido escolhido para sediar os jogos da Copa, conta o engenheiro Alexandre Heringer Lisboa, gestor de projetos de energia renovável da concessionária.
O exemplo veio da Alemanha e Suíça, lembra Lisboa, países que em 1998, durante a Eurocopa, souberam inovar ao construirem painéis de energia solar nos estádios onde seriam realizados os jogos do campeonato. Este fato estimulou o técnico a levar a proposta para a sua equipe na Cemig. "Coloquei a seguinte questão: se a Alemanha, onde o sol na maior parte do ano é 40% mais fraco do que nos dias menos ensolarados no Brasil, consegue rentabilidade com esse sistema, então, por que nós, que dispomos de tanta luz, não deveríamos tentar também?".
A ideia foi abraçada pela Companhia. Agora, os estudos estão quase finalizados, avisa Lisboa. "Falta apenas terminar o layout do projeto, com definições do tipo: qual o potencial a ser gerado pelo sistema, qual o melhor material para a fixação dos paineis, quantos paineis serão instalados?". O layout deve ser concluído até o final do mês, diz ele, explicando que resta concluir o projeto básico e lançar o edital de licitação da obra, provavelmente até março do ano que vem. Em dois ou três meses é possível fazer a montagem dos painéis, explica. Se for assim, a previsão é que o sistema passaria a funcionar em dezembro de 2012.
O projeto mineiro tem suporte tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e financiamento - de 10 mil Euros - do Banco de Fomento do Governo Alemão (KfW). Outros parceiros são os escritórios Gustavo Penna Arquitetos Associados e a GMP, autores da nova arquitetura do estádio, que também coordenam a implantação da tecnologia, e a Agência de Cooperação Técnica Alemã (GTZ). O arquiteto Ricardo Gomes Lopes, do escritório Gustavo Penna, explica que, "se o sistema fotovoltaico for realmente aprovado e implantado, o projeto do Mineirão receberá uns trinta pontos na certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), passando à categoria Gold", já comemora.

Arena Cuiabá
No caso do novo Verdão - ou Arena Cuiabá, projetada em co-autoria pela GCP Arquitetos/Grupo Stadia -, o processo é mais recente. O projeto de energia solar foi desenvolvido entre a GCP Arquitetos e a Agecopa, Instituto Ideal - Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas da América Latina (organização sem fins lucrativos, com sede em Florianópolis) e, tal como no projeto do Mineirão, a Agência de Cooperação Técnica Alemã (GTZ) e Universidade Federal de Santa Catarina.
Tudo começou em junho deste ano, quando a arquiteta Alessandra Araújo, da GCP, esteve na Alemanha, a convite da GTZ e do Instituto Ideal. O objetivo era conhecer as novas tecnologias e instalações de painéis de energia solar nos estádios daquele país. A partir daí, o escritório se incumbiu de adaptar o projeto do Verdão para permitir a instalação das placas solares. "Neste momento, estamos em negociação com a Agecopa e o Instituto Ideal para definirmos a melhor forma de viabilizar a energia solar para a Arena Cuiabá", informa.
A proposta é que a energia gerada seja vendida no mercado livre pela concessionária e sirva para a iluminação do Parque do Cocó, onde fica o estádio. Mas o projeto ainda dá seus passos iniciais, e mesmo os estudos de viabilidade financeira ainda não estão concluídos. Falta o desenvolvimento maior do projeto e a aprovação da solução, esclarece Alessandra Araújo.
O que os arquitetos da GCP estudam neste momento são questões como qual a localização melhor para a colocação dos painéis. "Planejamos ocupar o fechamento lateral do estádio, na face norte, estendendo os painéis para as laterais de face oeste e leste. Outra possibilidade, a ser estudada, é na parte translúcida da cobertura das arquibancadas", explica a arquiteta.

Estádio solar
O sistema de painéis fotovoltaicos compreende a aplicação de filmes muito finos e leves, que são colados sobre a cobertura de concreto do Mineirão, revestindo esta estrutura. "Funciona como um tapete sutilmente colado na laje de concreto", descreve o arquiteto Ricardo Lopes. Estuda-se ainda se esta membrana (que vem em rolos de 60 cm) poderá ou não ser aplicada também sobre outra cobertura, de policarbonato, que foi projetada para o estádio, sem que gere interferências visuais, esteticamente significativas no projeto tombado do estádio.
Basicamente, funciona assim: os raios solares, incidindo sobre os painéis de células fotovoltaicas, reagem em contato com o silício (metal semicondutor constitutivos das células), provocando uma corrente elétrica, que é capturada e conduzida à Cemig, diretamente, para armazenamento e distribuição à rede.
Considerando que o sistema seja utilizado apenas na laje de concreto, nesse caso haveria um rendimento do sistema de 500 kWh. Caso seja autorizada a aplicação das placas fotovoltaicas sobre o policarbonato, então esta potência deve subir para 1 mWh, afirma o executivo da Cemig.
Com este projeto, o Mineirão pode vir a ser o primeiro estádio a funcionar como centro gerador de energia elétrica no país. A Cemig quer comercializar esta energia solar, não para toda a rede, mas para "clientes livres", empresas com alto consumo energético, explica Lisboa. "Para estes setores, optar por uma energia limpa, não poluente, e renovável como esta, pode ser muito interessante institucionalmente", resume. O Mineirão não fará uso desta energia, já que o consumo em dias de jogos apenas não justificaria, mas terá como contrapartida o abatimento, na conta de luz do estádio, do total que for gerado pelo sistema fotovoltaico.
Fonte: Portal 2014

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