quinta-feira, 19 de março de 2009

Capim-elefante ganha força na produção de eletricidade

O capim-elefante ganha força como uma biomassa alternativa para a queima sustentável e como fonte energética. O custo da tonelada e da secagem abaixo da média de outras biomassas favorecem a expansão da cultura no Brasil.

Para o presidente do Instituto Ecológica, Stefano Merlin, também há a possibilidade de projetos de redução de carbono e melhoria de clima. "Com o capim-elefante pode-se aproveitar terras degradadas, possibilitando a geração de emprego e renda na agricultura, para produzir energia limpa", disse Merlin, durante o I Dia de Campo sobre Capim-Elefante e Alternativas de Queima Sustentável, realizado na semana passada em Palmas (TO).

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o capim-elefante é muito parecido com a cana-de-açúcar. É rico em fibras, tem alto potencial para uso como fonte direta de energia renovável e para a produção de carvão vegetal. As características permitem uma alta produção de biomassa com o uso mínimo de fertilizante nitrogenado, que também pode ser utilizado para alimentação animal. "Gera uma economia de 60% de fertilizante", diz o coordenador de projetos do Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT-SP), Vicente Mazarella. "O capim exige áreas menores e menor investimento em terras", acrescenta.

Estudos do uso de capim-elefante em indústrias ceramistas apontam a utilização desta biomassa como alternativa de queima, que substitui fontes como a lenha nativa. Segundo o consultor técnico em cerâmica, Antonio Cubano Rissone, o capim-elefante tem a proposta de sustentabilidade econômica e social. "A biomassa vegetal pode contribuir muito para a autonomia energética nacional, tanto em processos de secagem e queima direta na indústria cerâmica, quanto os de gaseificação para acionar turbinas e gerar eletricidade", afirma o consultor.

Sucesso na Europa

Rissone conta que na Inglaterra já se produz, com sucesso, energia elétrica a partir deste capim. "Eles baseiam-se em uma produtividade média de 10 toneladas de capim por hectare por ano (t/ha/a), enquanto no Brasil se chega a cerca de 60 toneladas de massa seca por hectare em um ano", compara. Ele afirma que, como as condições climáticas são favoráveis ao capim no Brasil, isso "nos permite ser otimistas".

Segundo Mazarella, do IPT, em Illinois, nos Estados Unidos, foram colhidas 29,1 toneladas de massa seca por hectare em 2008. "Esperam, em poucos anos, colher 40 toneladas", informa. Mazarella diz que há muita demanda para o capim, como grandes consumidores de energia e carvão vegetal e também consumidores de vapor e calor, como as indústrias processadoras de alimentos, química, têxtil e de secagem de grãos. No Brasil, o coordenador fala que o uso em churrascarias, pizzarias, lareiras, caldeiras indústrias ou geração termoelétrica ainda é pequeno. Já na Europa, o uso em aquecimento domiciliar, industrial e em geração termoelétrica é estimado em 10 milhões de toneladas por ano. "Se é realidade lá, também pode ser aqui."

Insumo para as cerâmicas

Mazarella afirma que a demanda de 20 cerâmicas, que produzem, mensalmente, 1,5 milhão de peças (2 quilos cada), é de 60 mil toneladas de massa por mês, o que, em um ano, com ajustes sazonais, gera uma demanda de 660 mil toneladas por ano. "Isso mostra que há mercado", enfatiza.

Alta produtividade

Em uma comparação com o eucalipto, usado para a queima em cerâmicas, o consultor Rissone mostra que a produtividade do capim-elefante chega a ser seis vezes maior. "Enquanto o capim produz 60 t/ha/a, o eucalipto produz 9 t/ha/a. Além disso, a primeira colheita do capim é entre 120 e 150 dias, já a do eucalipto, de 4 a 6 anos. A vida útil do capim (30 anos) pode ser até três vezes maior do que a do eucalipto (de 12 a 18 anos), e é compatível com a criação de animais, o que não ocorre com o eucalipto.

A primeira colheita

Em setembro de 2008, o produtor Miguel Fole, plantou dois hectares do capim, em Porto Nacional (TO). Após quatro meses, quando as plantas ultrapassavam 3,5 metros de altura, foi realizada a primeira colheita, com produtividade de 80 t/ha. "Como na área era plantado soja e feijão, não foi preciso adubar. É uma cultura bem rústica. Praticamente, é só plantar e colher", explica Fole.De acordo com o cálculos do produtor, o custo de produção da tonelada de matéria seca é de R$ 26 por tonelada.

Segundo o vice-presidente do Instituto Ecológica, Divaldo Rezende, que também comanda a Cantor CO2e no Brasil, uma plantação de 50 hectares de capim-elefante, com produtividade de 200 t/ha/a de massa verde, em condições específicas, pode gerar uma receita de R$ 5 milhões, enquanto o custo de produção é de R$ 3,5 mil por hectare.

Melhorar a pesquisa

Mas apesar do cenário otimista, Mazarella lembra que ainda há problemas para a produção no Brasil. "Temos a necessidade de definir as melhores cultivares para cada região. São mais de 200 genótipos e o que pode ser bom em São Paulo, não necessariamente será bom no Espírito Santo", diz Mazarella. E como se trata de uma planta de baixa densidade, há dificuldade de compactação para viabilizar estocagem e transporte. Para ele, "no laboratório" também são necessários avanços. "É preciso pesquisar variedades resistentes a pragas e à seca, além de descobrir novas genéticas para melhorar ainda mais a produtividade", afirma.

Bom para o meio ambiente

O consultor Rissone ressalta o lado ambiental do capim-elefante. "O crescimento desta espécie ajuda a diminuir a poluição ambiental, retirando carbono livre na atmosfera, criando créditos de carbono", diz. De acordo Mazarella, 35 toneladas de matéria seca por hectare em um ano equivalem a 100 barris de petróleo. (Sérgio Toledo/InvestNews - Gazeta Mercantil)

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